sexta-feira, 3 de outubro de 2014
O COLUNISTA DO DCM - DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO PEDE DESCULPA A LUCINA GENRO POR NÃO VOTAR NELA.
CARTA ABERTA A LUCIANA GENRO Prezada Luciana,
Meu voto era seu até semana passada.
Mudei de ideia, porém, isso nada tem a ver com a senhora.
Continuo com a certeza de que tu és a melhor candidata.
Com seu jeito gaúcho de chamar as coisas pelo nome, o apoio a todas as causas progressistas, que só permanecem polêmicas em países atrasados. A defesa do imposto sobre grandes fortunas, do fim do fator previdenciário, por dizer não à independência do Banco Central. Por impedir que empreiteiras, bancos e multinacionais participem de sua campanha. Por ter como principal compromisso o combate à desigualdade e por apresentar propostas radicais para combatê-la. Radicais por atingirem a raiz do problema. Nesse sentido, és radical, mas não extremista, ou mesmo comunista. E nisso acredito que te diferencias dos outros candidatos à esquerda do PT que sonham em acabar com o capitalismo e não em transformá-lo. Mas estás além dos rótulos, por representares algo novo. Socialismo e liberdade, afirma o teu partido logo no próprio nome, e assim se distancia das experiências totalitárias que deturparam o pensamento marxista no século XX.
E em ti eu acredito. Chego a vibrar muitas vezes, muito mais do que com qualquer outro candidato. Sua enquadrada em Aécio Neves no debate em que o tucano falava sobre corrupção, falta de ética, e esquecia que o PSDB comprou a reeleição de Fernando Henrique, foi espetacular. Sugerir ao Danilo Gentili que ele volte aos estudos também.Por tudo isso, o meu voto seria seu, não fosse um único ponto em que discordamos e a força das circunstâncias.
Não acho que Dilma, Marina e Aécio são iguais.
Podem estar muito mais próximos entre eles do que em relação a sua candidatura. Mas Marina e Aécio estão mais distantes.
São candidatos neoliberais e de direita.E nisso concordo com Rodrigo Constantino, aquele colunista que disse esses dias que qualquer pessoa que vote em ti é idiota. A direita devia se assumir como direita e parar de tentar fingir ser o que não é para agradar aqueles que Rodrigo chama de “esquerda caviar”.Segundo o colunista, a direita pode sim ter força para eleger um presidente, desde que se assuma como direita. E isso pode acontecer com Marina ou Aécio, nunca com Dilma.E acredito que muito graças a sua candidatura e a tudo o que disseste para demonstrar que na verdade és tu quem representa a mudança, as Jornadas de Junho, a nova política, e não Marina, Dilma pode ganhar no primeiro turno.
Peço então que me entendas, que não fique magoada caso as urnas não lhe tragam tantos votos quanto tu mereces. Deve demorar um pouco para o Brasil ter uma presidente como tu. Mas estamos ainda sob risco de colocar a direita no poder, ou uma incógnita que pode ou não ser de direita.
Voto então em Dilma porque, infelizmente, ela é a única candidata que pode evitar que isso aconteça já nesse domingo e, admito, tenho pressa.
Porque talvez, depois dessa campanha e inspirada por ti, Dilma tenha a coragem que lhe faltou no primeiro mandato para ir além, para aprofundar o combate à desigualdade, para garantir os direitos humanos, o estado laico e a liberdade.
Todas as propostas que tu defendeste tão bem e que Dilma parece muito mais disposta a abraçar do que Marina ou Aécio.
Voto então em Dilma porque queria que tu fosses eleita, mas, infelizmente, ainda não é possível. Porque votar em ti ajuda a direita a chegar ao segundo turno.
Porque Dilma, no atual sistema, com a Câmara e o Senado que devem se formar, continua a ser o que tem para hoje.Por tudo isso, meu voto é dela, mas meu coração é seu. E que o futuro nos reserve dias melhores. Circunstâncias melhores para votar em ti e para que possas governar como pretendes.
Espero que me entendas.
Com pesar e gratidão, Leonardo Mendes.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
Luciana Genro: nanica, uma ova!
Luciana Genro: nanica, uma ova!
Advogada e gaúcha de Santa Maria, a candidata do
PSOL, de 43 anos, é a grande surpresa da corrida presidencial. Por
Cynara Menezes
Gustavo Luz
Ela se destaca nas entrevistas e debates e atrai o voto dos jovens de esquerda
Início
da noite de terça-feira 23 em São Paulo. A candidata do PSOL, Luciana
Genro, é recebida na porta de um espaço cultural na Vila Madalena por
algumas garotas na faixa dos 20 anos. A presidenciável vai participar de
uma conversa com mulheres e, logo na entrada, uma das garotas lhe dá a
notícia: uma página criada no Facebook por seus fãs (os lucianetes)
bateu a marca de 1 milhão de visitantes. Os frequentadores querem saber
até a marca do creme usado por Luciana para domar os cachos. “É o mais
baratinho possível, custa 8 reais”, ela ri.
No centro cultural, cerca de 300
mulheres, todas muito jovens, de óculos e vestidos coloridos, batom
vermelhíssimo e cortes de cabelo modernos, a esperam para o debate ao
lado da cantora Marina Lima e da filósofa Marcia Tiburi, entre outras.
Todas declaram voto na representante do PSOL. A “diva fiel aos cachos” é
aplaudidíssima no fim do evento, ao espetar as rivais Dilma Rousseff e
Marina Silva. “Não basta ser mulher, é preciso estar do lado certo. E
elas não estão.”
Com no máximo 1% nas intenções de voto,
segundo as pesquisas, Luciana Genro tornou-se a musa dos descolados,
principalmente após ter soltado uma frase no debate organizado pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que se espalharia como
rastilho de pólvora na internet. Ao ser acusada por Aécio Neves de ser
uma “linha auxiliar do PT”, saiu-se com essa: “Uma ova, candidato
Aécio”. A reação espontânea agradou e a frase tem sido usada inclusive
como toque de celular entre jovens de extrema-esquerda que torcem o
nariz para o PSDB, mas também para o PT.
Aos 43 anos, a
advogada, gaúcha de Santa Maria, tem consciência do fato de,
paradoxalmente, uma “gíria idosa” tê-la levado a cair no gosto dos
meninos e meninas de 20 anos que adoravam interagir com Plínio de Arruda
Sampaio, o candidato do PSOL em 2010, nas redes sociais. “É uma
expressão que uso, embora meio antiquada, eu sei disso”, diz. “Acho que
ouvia a minha avó falar, não sei. Mas uso muito, pois não gosto de falar
palavrão.”
No primeiro debate entre os candidatos,
na TV Bandeirantes, a presidenciável foi ofuscada pelo candidato do
Partido Verde, Eduardo Jorge, cujas caras e bocas conquistaram (e
causaram risadas) em muitos jovens eleitores. Jorge e Luciana têm muitas
propostas em comum, entre elas a legalização das drogas e do aborto.
Ciente de que talvez disputem o mesmo eleitorado, a candidata do PSOL
tem se dedicado a desconstruir sutilmente o adversário.
No debate da CNBB, ela fez questão de lembrar a passagem de Jorge pelo staff
do ex-prefeito Gilberto Kassab, de quem foi secretário. Na palestra
para as mulheres, alertou que sua defesa do aborto não é incondicional.
“Ele diz ser favorável ao aborto enquanto não houver uma política de
planejamento familiar, enquanto eu digo que métodos contraceptivos
falham e que o aborto precisa ser legalizado independentemente de
planejamento familiar. Vejam a diferença”, pontuou, para delírio geral. A
cantora Karina Buhr, presente na plateia e “indecisa” até então, fez
questão de levantar novamente para dizer: “Adeus, Eduardo!”
Filha
de Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, Luciana iniciou-se na
política ainda na adolescência, sempre à esquerda do pai. Em 2003,
deputada federal, acabaria expulsa do PT após se unir ao grupo que votou
contra a reforma da Previdência. Hoje sua família vive uma relação sui generis:
enquanto ela enfrenta a candidata do pai na eleição à Presidência, seu
ex-marido, Roberto Robaina, também do PSOL, enfrenta o ex-sogro na
disputa para o governo gaúcho.
A candidata parece se divertir muito, sobretudo com a
briga entre o pai e Robaina, que têm se provocado mutuamente nos debates
estaduais. No último deles, é a própria Luciana quem conta, às
gargalhadas. O governador petista virou-se para o ex-genro e disse:
“Você devia fazer que nem a Luciana e não ser quinta-coluna da direita”.
Robaina nem titubeou: “Ainda bem que você citou a Luciana. Ela vota em
mim”.
É com o ex-marido, e não com o pai, que
Luciana se prepara para os debates. “Ele me deu a dica de ouvir tudo o
que os outros dizem em vez de me prender tanto ao script”, conta.
Em suas primeiras aparições, presa ao roteiro revolucionário, falou
tantas vezes em “capital financeiro” que virou alvo de gozação.
“Entrei na disputa com
a preocupação de não me tornar caricata, de não ficar estigmatizada
como a candidata da maconha ou do aborto. Depois do primeiro debate,
recebi vários comentários me alertando para o uso de muito economês e
com sugestões de simplificar para os eleitores entenderem. Tenho tentado
fazer isso”, diz. “De fato, a economia é uma discussão difícil e até
por isso acaba não tão relevante como deveria ser. Agora tenho usado
mais exemplos, falado dos ‘gêmeos siameses’, das semelhanças que existem
entre os três, Marina, Dilma e Aécio.”
Além
dos elogios às respostas afiadas, Luciana Genro tem se surpreendido com
os galanteios. Em uma entrevista publicada na internet, o escritor Xico
Sá declarou que, entre as três candidatas, seria a do PSOL quem
“convidaria para sair”. Divulgada pela própria presidenciável, a
reportagem causou a fúria de feministas, que se revoltaram com a frase.
Ela gosta de se declarar detentora do “título de primeira candidata
feminista”, mas, apesar de reclamar que esse tipo de questão não se faz
aos concorrentes do sexo masculino, gostou da resposta de Sá. “Fiquei
lisonjeada. Não se pode ser tão radical, senão daqui a pouco ninguém vai
poder nem dizer que uma mulher é bonita.”
Sobre eventuais surpresas para o debate
que aconteceria no domingo 28, na Rede Record, ela emendou: “Tenho
pensado em algumas coisas. Mas acho que depois do ‘uma ova’ vai ser
difícil me superar”.
*Reportagem publicada originalmente na edição 819 de Carta Capital, com o título "Nanica, uma ova!"
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